No ensino do violão clássico, Niterói também tem tradição, pois aqui viveram e atuaram algumas personalidades entre as quais se destacam Roberto Silva e Luiz Gonzaga da Silva,que contribuíram efetivamente para o reconhecimento do instrumento nas academias e universidades desde a década de 60.
Natural de Vassouras (1927) Roberto Silva estudou composição com o professor, compositor e regente Paulo Silva, conheceu e estudou a Escola de Tárrega com o violonista e professor paulista Luiz Alan e, em 1959,após obter diploma de suficiência didática no Distrito Federal,foi convidado a criar a primeira cadeira de violão,em nível técnico,do Rio de Janeiro,no Conservatório Brasileiro de Música.No ano seguinte foi o violonista responsável pela elaboração e 3º colocado no 1º concurso de violão clássico realizado no Brasil, organizado pela prefeitura de Niterói e pelo Jornal Última Hora.
Em 1968 Roberto Silva lançou a “Escola nova do violão”. Trata-se de um curso básico que apresenta,além de orientações pedagógicas direcionadas aos professores, exercícios técnicos e conteúdos teóricos trabalhados de forma gradativa.Os exemplos musicais, nos quais em cinco períodos trabalha os movimentos característicos do instrumento,são tirados de obras do próprio Roberto.Tal método foi adotado oficialmente na Academia Lorenzo Fernandes, no Conservatório Brasileiro de Música,no S.E.M. A da Guanabara e no Conservatório de Música do Estado do Rio de Janeiro, em Icaraí, Niterói. Neste período Roberto Silva se relacionou com Ademar Nunes, Dilermando Reis e com Luiz Gonzaga da Silva. Gonzaga e Roberto estudaram composição e violão com Paulo Silva e Luiz Alan, respectivamente.
Em 1970,Roberto Silva convidou o seu aluno e amigo Juarez Carvalho para substituí-lo nas escolas por um período inicial de três meses, pois.tendo se envolvido com projetos relacionados ao cinema,precisava viajar por vários estados,entre os quais, Pernambuco e São Paulo. Juarez relata em entrevista dada a mim, que Roberto nunca mais voltaria a seu posto: morrendo no dia 1-12-87, com o mérito de ter fundado no Conservatório brasileiro de música, o primeiro curso técnico de violão do Estado do Rio de Janeiro, ainda em 1959.
Luiz Gonzaga da Silva
A vocação didática de Luiz Gonzaga da Silva se iniciou ainda em sua terra natal, ensinou violão e cavaquinho a alguns amigos,entre eles o jovem Edinaldo Vieira Lima( o Índio do Cavaquinho) ,na época seu visinho e fez parte do conjunto seis Diabos, criado por Gonzaga na década de 40.
O maestro Lula Bastos, valorizando a atuação de seu professor Luiz Gonzaga da Silva no Rio de Janeiro, declara em entrevista a importância do mestre alagoano para vários músicos que tiram do violão seu sustento. Luiz Gonzaga da Silva não só compôs um grande número de peças como formou vários alunos, os primeiros a ressaltar sua importância como professor e compositor foram Joaquim Barreto e Genésio Nogueira.
Maestro Joaquim Barreto (CMN) já na década de 60 se apresentou no Teatro Municipal de Niterói,interpretando a valsa Saudade . Nesta época, ele que era sócio do Clube do Violão Di Giorgio (SP), ganhou um violão em um sorteio promovido pela fábrica.Escreveu agradecendo e aproveitou ressaltar a importância de seu então professor Luiz Gonzaga da Silva, que tinha várias peças incluídas no programa de violão clássico do Conservatório Santa Cecília, em Niterói.Na semana seguinte, Gonzaga recebeu uma carta do fundador do clube, Sr. Reynaldo Di Giorgio, filho adotivo do luthier Romeo Di Giorgio, solicitando o envio de partituras e de uma gravação com algumas músicas desse compositor para veiculação no programa de rádio dedicado ao violão do Brasil.
Gonzaga relatou que o programa,com as peças Saudade (valsa) e Capricho nº1 foi reprisado várias vezes. Ainda na década de 60 foi convidado por Raimunda Viana para trabalhar no Conservatório de Música de Niterói.
Esse Conservatório, criado em 1914, desde 1965 possui curso superior em música; e de 1965 a 1975 fez parte das faculdades que compunham a UFF (Universidade Federal Fluminense). Para nossa satisfação encontramos documentos fiscais que comprovam a atuação de Luiz Gonzaga da Silva como professor de violão nessa instituição, como podemos evidenciar em carta/convocação,em papel timbrado com o nome das duas instituições,enviada pela direção do conservatório/UFF ao professor Luiz Gonzaga da Silva em 1970.
“Universidade federal fluminenseRaimunda Viana Magalhães
Conservatório de música
Senhor professor:
A diretora do conservatório de música de Niterói, solicita o seu comparecimento a congregação que se realizará no próximo dia 27 do corrente às 8:30 hs.
Assuntos de ordem didático pedagógico e econômico financeiro deverão ser estudados e deliberados para o corrente ano de 1970.
Niterói, 19 de fevereiro de 1970.
Diretora
“Ao Ilustríssimo professor Luiz Gonzaga da Silva.”
Tal correspondência denota o pioneirismo de Luiz Gonzaga da Silva e demonstra o prestígio que o compositor e professor tinha neste período e, sobretudo,nesta Instituição. É importante frisar que estávamos no início da escalada do violão até as universidades,fato que contou com os esforços de Jodacil Damasceno e foi concluída por Turíbio Santos na Década de 80.
Luiz Gonzaga da Silva era membro da ABV (Associação Brasileira de Violões) e foi convidado para ser diretor musical na S.A.M.B. Sociedade artística que tinha o objetivo de profissionalizar músicos, cantores e instrumentistas. Gonzaga estava,poi, sempre próximo de manifestações populares e eruditas. Chegou a ocupar uma cadeira como membro do conselho regional da Ordem dos Músicos do Brasil e foi um dos primeiros professores de violão licenciados pela instituição. Nesta,1968, época conheceu Genésio Nogueira .
aproximação dos dois se deu através de um anuncio de jornal que oferecia a vaga para um violonista acompanhador, para trabalhar na SAMB .Um dos diretores da sociedade era o compositor Peter Pan-autor da valsa Última Inspiração e cunhado da cantora Emilinha Borba, amiga de Gonzaga-que era o diretor musical da instituição fazia parte da banca julgadora. Genésio fez o teste e foi aprovado.
A SAMB,que se localizava na Praça Tiradentes,(depois cresceu e foi para a AV.Presidente Vargas,590 edifício Lisboa),tinha até um programa na Rádio Mundial.Luiz Gonzaga convidou então o compositor e professor Roberto Silva para trabalhar com ele,visto que não tinha tempo para dar aulas,envolvido que estava com o cargo de diretor musical.Genésio relata que só foi estudar com o Gonzaga após a saída deste da SAMB. Desde então seus laços de amizade ali se intensificaram,Genésio freqüentou sua casa e o acompanhá-va nos recitais.Neste período Genésio aprendeu,mano a mano,várias peças eruditas;e aprendeu também a ler partitura.Nesta época Luiz Gonzaga lecionou também na casa Carlos Wern , onde se apresentava informalmente e se relacionou com vários violonistas.Em seu aniversário de 51 anos Gonzaga foi presenteado por Genésio que o apresentou ao Jovem virtuose Sebastião Tapajós que chegou a tocar, dentre outras, a peça Capricho Nº1, editada pela Editora Nicolívia , Tapajós desde então passou a visitar o professor Gonzaga para conversar sobre violão.
Genésio Nogueira ganhou o primeiro prêmio do concurso A grande chance,do qual participaram: Emílio Santiago, lecí Brandão,Armandinho, dentre outros. Na maioria das entrevistas que deu em função da vitória exaltou a figura seu professor Luiz Gonzaga da Silva. Genésio em seu livro: Sua majestade o violão/Biografia de Dilermando Reis (2000) relata que foi convidado pela ABV para se apresentar interpretando composições próprias, o recital aconteceu no dia 28/10/1970 na Sala Cecília Meirelles.Na ocasião Genésio registrou a presença de seu professor, o também compositor Luiz Gonzaga da Silva que, aliás, foi aplaudido de pé. Na platéia, dentre várias personalidades, a violonista americana Alice Artz, os violonistas Sergio Abreu, Jodacil Damasceno e Sebastião Tapajós, além de Mario Mascarenhas, Bororó ,Sinval silva ,Barbosa da silva.
O Gonzaga não atuou muito em grandes recitais públicos, se dedicando mais a atuação de professor e de compositor, segundo Genésio Nogueira, o compositor não se apresentava em recitais por insegurança, como passava a maioria do seu tempo compondo não se preparava de modo satisfatório. A pesar da falta de constância nas apresentações, alguns depoimentos apontam suas execuções na ABV, na casa Carlos Wern,e em outras reuniões,como de alto nível, por sua sonoridade, sua claresa,interpretação e por seu repertório,onde não faltavam por exemplo,Bach,Barrios ou Villa-Lobos.
Após este período,em meados da década de 70, o prof.Gonzaga resolveu trabalhar por conta própria, abrindo no Palácio dos Jornalistas na AV.Amaral Peixoto,(no centro de Niterói) seu curso livre de violão, onde trabalhou por vários anos até a década de 90.Continuou compondo até 2004,quando sofreu um A.V.C.Morre em 2006, após completar 87 anos.
Francisco Frias na entrevista relata o cuidado que Gonzaga tinha com o repertório,com as Vozes e a com a métrica musical, fatores que influenciaram vôos que o levaram a ter aulas com Turíbio Santos.
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